Tsuru, Origami, desejo de paz e fim das energias nucleares.

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Mangá e Mitologia

MITOLOGIA GREGA DE FAETONTE ANTECIPA A TRAGÉDIA NUCLEAR

A escritora japonesa Ryoko Yamagishi há 25 anos havia publicado um Mangá com a Mitologia Grega de Faetonte e promovendo uma reflexão sobre o uso da energia nuclear após o acidente em Chernobill.

É um drama em que o jovem  se achou com poderes para  substituir Deus e desafiou os poderes de seu pai.  O mangá foi republicado após o acidente nuclear de Fukushima e disponibilizado para download.

Enquanto não temos o Mangá traduzido para lingua portuguesa, procurei na nossa lingua e encontrei este excelente texto do Frei Beto,  sobre o qual fiz um pequeno resumo e adaptação para promover uma reflexão sobre o Acidente Nuclear de Fukushima.

FAETONTE – O FILHO DE HÉLIO

Filho do Sol, o jovem Faetonte, tomado pela inquietação própria à idade, viu-se desafiado a provar sua ascendência divina e dirigir o carro do pai.

Faetonte (ou Fáeton), na mitologia grega, era o filho de Hélio e da ninfa Climene.

Nos primeiros Jogos Ístmicos, celebrados em Éfira (Corinto) pelos deuses Posidão e Hélio, Faetonte foi o vencedor da corrida de bigas.[1]

Um dia, desafiado por Épafo, não conseguiu vencê-lo. Épafo dizia que sendo filho de Zeus tinha poderes maiores do que Faetonte. Este inconformado pela derrota, queria provar que ele era filho de Hélio, o Deus do Sol, e ainda iria vencê-lo.

Dirigiu-se ao palácio de Hélio, Faetonte aproximou-se do trono onde o deus-sol reinava.

Faetonte exigiu do pai uma prova de amor. Hélio prometeu atender-lhe tão logo manifestasse um pedido.

-Pai, eu quero trazer em mãos as rédeas do carro guiado por quatro cavalos incandescentes que expelem labaredas e, graças aos ventos, disseminavam a luz e o dia por toda a Terra.

Hélio julgou absurdo o pedido do filho. Como confiar a um jovem imaturo o carro capaz de impedir o mundo de viver mergulhado nas trevas? Retrucou-lhe:

– Ó, filho, quisera eu poder voltar atrás em minha promessa! Pede-me algo que está além de suas forças. Você é jovem e mortal; almeja mais do que outros deuses são capazes de obter. Nenhum deles logra equilibrar-se sobre o eixo incandescente. Íngreme é o caminho de minha carruagem, só com muito esforço meus cavalos, ao amanhecer, conseguem galgá-lo. O meio do caminho é alto, no centro do Céu. E no final o caminho declina abruptamente, exige uma condução segura, para que não mergulhe o carro nas profundezas do mar. Lembre-se de que o Céu se move num ímpeto constante, e é preciso viajar em sentido contrário a esse movimento. Como você haveria de conseguir isso? Volte atrás em seu pedido. Peça o que quiser, todas as riquezas do Céu e a da Terra, menos isso.

O rapaz não arredou pé, convencido de que na qualidade de filho de Hélio seria capaz de fazer igual ou menor do que o pai, seria capaz de dissipar as trevas que encobrem o mundo. E que era a maneira de mostrar mais forças ao seu desafiante Épafo.

Ao ver que a Aurora já se aproximava para inaugurar um novo dia, Hélio concordou que o filho o acompanhasse na carruagem. Faetonte, entretanto, insistiu em guiá-la sozinho.

Como todo pai fraco de caráter, o rei abriu mão de seus princípios para não contrariar o filho. Frente à insistência do jovem, cedeu ao coração em detrimento da razão.

Faetonte subiu no carro e conduziu os cavalos a galope pela linha etérea que os manteria eqüidistantes da Terra e do Céu, de modo a não incendiar as moradas dos homens e dos deuses. Rédeas nas mãos, sentiu-se senhor do mundo, cuja luz provinha de seu carro flamejante.

Contudo, o brilho das labaredas da carruagem estavam muito acima da sua capacidade de controle: em pouco tempo turvaram-lhe os olhos e a mente. Não conseguiu manter o equilíbrio da carruagem. Os cavalos puxavam mais que a força de suas mãos. Desabalados, mergulharam em direção à Terra. Ao passar por montanhas cobertas de neve, o calor do carro as derreteu, o bafo dos animais incendiou cidades e calcinou países, fez arder florestas, secar os rios e os mares.

Zeus, percebendo que a Terra ia acabar, indignado, atirou um de seus raios e despedaçou o carro, dispersando os cavalos. O corpo de Faetonte, com os cabelos em chamas, caiu como uma estrela cadente. As náiades o depositaram num túmulo, em cuja lápide gravaram este epitáfio: “Aqui jaz Faetonte. Na carruagem de Hélio ele correu; e se muito fracassou, muito mais se atreveu”.

Adaptado do texto de Frei Betto.

Yoshihiro Odo

Abril/2011

Gaman + kansha no kimoti

Chama a atenção a Carta de Chieko Aoki, presidente da rede Blue Tree Hotels.

anúncio criado pela Signal Noise - http://blog.signalnoise.com/

A todos da Blue Tree,
Sobre a situação no Japão, a mídia está exagerando para vender bem a notícia. A usina nuclear está sendo trabalhada e o povo é informado o dia todo, por todos os canais de TV e, pelo visto, por enquanto nada preocupante. É fato que o governo está fazendo de tudo para evitar aquecimento da usina. Existem sim riscos, mas por enquanto está bem. A cidade está menos cheia porque reduziu-se a frequência de transportes públicos para economia de energia. Estamos sob apagão programado, com revezamento diário de racionamento de 3 horas. Onde moro não tem este problema porque é região onde o governo tem grandes equipamentos que não podem ser desligados. Hoje, por exemplo, fez muito frio e o povo ligando aquecedores, sobe o consumo. Em casa, estamos gastando o mínimo de energia, assim como todos japoneses.
No mais, é realmente dramática a situação no local do tsunami e, em menor extensão mas também difícil, quem morava perto das usinas e que tiveram que evacuar. Imagine mais de 1,5 milhões de pessoas desabrigadas nesta situação em cerca de 3,500 abrigos. Com falta de gasolina e diesel que dificulta ajuda a locais atingidos, porém hoje conseguiu cobrir entrega de produtos de necessidade a quase todos os abrigos. As doações vem de praticamente todas as empresas do Japão, entregando seus produtos. Solidariedade é um capitulo à parte que vale a pena compartilhar.
O exagero da mídia é prejudicial, assim peço que compartilhe com o nosso pessoal e para quem perguntar, porque Tóquio não é cidade fantasma por conta de usina. Tudo é planejado para racionamento de energia, com empresas dispensando funcionários mais cedo para não congestionar somente determinados horários; com tragédia assim as pessoas não ficam por aí fazendo compras e comendo à vontade nos restaurantes. O Japão é país solidário e grupal, assim se uma parte está sofrendo, todos sofrem juntos e, nesse momento, o espírito é de “gaman”, que todo japonês está falando, ou seja, saber suportar, ter paciência, ser tolerante com as dificuldades. Outro termo que está sendo bastante usado é “kansha no kimoti”: espírito de gratidão. As pessoas estão valorizando a vida, a energia, ajuda, etc.
Agradeço a preocupação e continuem orando pelo povo japonês.
Abraços
Chieko Aoki
Presidente
Blue Tree Hotels

Compreender Fukushima

As ultimas noticias de Fukushima, mostram que a Tokyo Electrics não está conseguindo evitar o vazamento de água contaminada às águas do pacífico.

Mainishi Daily News

É o seguinte o  mecanismo do vazamento e contaminação atual:

Para se impedir o vazamento da radiação via aérea:

Vem se utilizando água para resfriar as Varetas de combustível e para isolar a radiação de Iodo, césio radiativos e outros componentes radioativos dentro da água.

As varetas estão imersas num tanque de resfriamento ou dentro do próprio reator.

Esses tanques de resfriamento nos reatores 1 a 3 estão com vazamento e precisam de receber reposição contínua de água (6, 8 e 7 toneladas/hora respectivamente nos reatores Numero um, dois e três) visando manter o nível da água e a temperatura destas varetas de combustível, num limite do menor uso possível das águas. Mesmo assim os reatores um, dois e três somados necessitam de 21 toneladas de água por hora.

Estas águas vazam por rachaduras anda não identificadas e estão se acumulando dentro dos diversos compartimentos e túneis subterrâneos das usinas.
De alguma rachadura estas águas contaminadas passaram para compartimentos exteriores à usina e  por meio de túneis subterrâneos vazaram para o mar.

Numa das rachaduras à beiramar,  e próxima  à Usina 2, foi identificado um vazamento  que chega a 2 litros por segundos, o que equivale a 8,6 toneladas de água contaminada  por dia.

Nestes últimos dias foram tentadas utilização de concreto e depois polímeros solúveis para solidificar a água e tampar as rachaduras de vazamento para o mar. A tentativa foi um fracasso. Tentaram neste ultimo dia (04 de abril) colorir a água de um dos tanques para verificar a rota de vazamento. Não encontraram nada, isto é, o vazamento deve estar vindo de trajetos ainda não identificados.

Por outro lado tentam os técnicos da Tokyo Electrics isolar  a água radioativa vazada em tanques locais por meio de bombas hidráulicas. Repassam de um tanque para outro, até, quem sabe, conseguirem encontrar  e controlar as rachaduras de vazamento dentro das usinas.

É preciso entender: São 21 toneladas de água por hora utilizadas para o resfriamento (21 x 24 = 504toneladas/dia) . E destas foram encontradas vazamento de 8 toneladas/dia. O restante das águas, boa parte vem se acumulando em túneis e compartimentos subterrâneos. Que tentam bombear em tanques exteriores… Para depois lhes dar rumos ainda indefinidos.

Técnicos da Tokyo Eletrics anunciaram em lágrimas que as águas acumuladas em piscina exterior de cerca de 11 mi toneladas, águas estas consideradas de baixa contaminação radiológica ( terão que ser jogada no mar para abrirem espaço para águas altamente contaminadas) serão lançadas ao mar.

Farão o mesmo com as águas de menor contaminação contidas nos tanques das usinas 5 e 6 (total de 1500 toneladas)  com radiação de cerca de 6 a 20 Becquerell, cerca de 100 vezes acima do padrão de segurança admitido pela Comissão de Energia Nuclear.
As águas contaminadas vazadas ao mar oriundo da Usina 2 tem a radiação de alguns milhões de Becquerrell.

A cada jorrada nova de água para resfriamento estão sendo produzidas a mesma quantidade de água radioativa de alta periculosidade.

Por isso é preciso compreender.

A GRANDE CATÁSTROFE NUCLEAR DE FUKUSHIMA ESTÁ EM ANDAMENTO.
E NÃO TEM PRAZO PARA TERMINAR.

O VAZAMENTO RADIOATIVO CONTINUA. NUMA QUANTIDADE QUE NÃO SE SABE AINDA O SEU FIM.

ESTA É A CATÁSTROFE PRODUZIDA PELOS HUMANOS.

E TEM GOVERNANTES DO MUNDO COM CARA DE PAU DE DIZER QUE É “CLEAN ENERGY”.

E TEM TÉCNICOS DIZENDO SER ESTA A ENERGIA NUCLEAR MAIS BARATA.

Lembramos que os gastos com acidente em Chernovill já atingiram 23.500.000.000 dólares. (23,5 bilhões de dólares).
23,5% das terras de Bielorussia estão contaminadas para agricultura.

Quem paga por esses prejuízos ?
Por enquanto a GE, a AREVA S/A (fabricantes de usinas nucleares), o governo russo e francês (fornecedores de plutônio) apenas manifestaram solidariedade, sem se arcarem com os danos e prejuízos causados.
E pior, manifestam  a vontade de vender novos equipamentos de controle e resfriamento para controlar a temperatura por mais de 30 anos – num raro gesto de sarcasmo e oportunismo.

Por tudo isso.

CHEGA DE ACIDENTES DO TIPO FUKUSHIMA
NÃO À ENERGIA NUCLEAR.

E MEUS PROTESTOS CONCRETIZO NUM SINGELO GESTO DE PRODUZIR ORIGAMI DE TSURU.

 

 

 

 

 

 

 

 

Odo/04/04/2011.

Um Protesto Silencioso

Como filho e neto de japoneses, venho sentindo o infortúnio que o povo dos meus ancestrais vem sofrendo.

Antes, o das catástrofes naturais.

Erupções vulcânicas, terremotos e Tsunamis, fazem parte da Comunicação do Planeta.

Mas o que dizer das desgraças produzidas pelos humanos.

Quando a memória das bombas de Hiroshima e Nagasaki estavam sendo esquecidas na história, veio a destruição das Usinas Nucleares de Fukushima.

Quantos sábios desacreditados não advertiram que se tratava de uma bomba relógio para gerações futuras ??

E este futuro já se apresentou.

Somos as gerações condicionados a nos conformar. E olhar apenas as alternativas oferecidas.

Os formadores de opinião nos fazem opor a energia nuclear a combustíveis dos fósseis.

Os Chefes do Primeiro Mundo discursam hipocritamente:

“Queremos ajudar a resfriar as barras de plutônios”

“Oferecemos o nosso know how”

Adquiridos no Three Miles e Chernobil.

A indústria nuclear querendo faturar sobre a desgraça.

Poucos se lembram que ela é a filha da indústria bélica.

E agora se aproximam dos cadáveres para se deleitarem.

Na esperança da verdadeira inteligência.

Criar alternativas sustentáveis, felizes, Criar novos padrões…

Sem produzir ou depender das indústrias de destruição.

Por hora um protesto silencioso.

Tsuru, Origami, desejo de paz e fim das energias nucleares.

Yoshihiro Odo

Março/2011