Tsuru, Origami, desejo de paz e fim das energias nucleares.

Archive for the ‘Terra’ Category

Sieverts na Terra (parte 1)

CÉSIO E PLUTÔNIO NO SOLO

Segundo a amostragem de terra coletada nas terras próximas à usina Nuclear de Fukushima no dia 23 de março (12 dias após o Terremoto), à 40 kilometros noroeste, foi encontrada 163 KBq/Kg de Cs137 (Césio). Calculando-se para 1metro quadrado são 9780 KBq de Césio 147. No caso de Chernovill foram evacuadas e proibidas para moradia toda a área acima de 555 KBq de Césio.

Diferente do Iodo radioativo, que tem a meia vida de apenas 8 dias, a meia-vida do Césio 137 é de 30 anos. (Isto é o tempo necessário para a redução para a metade da radioatividade).

Terras contaminadas com Césio se tornam imprestáveis para a agricultura. Mesmo que se plante, os produtos não podem ser consumidos. Além disso, o Césio emitirá radioatividade no ar, continuamente de modo que viver nesta terra significa estar se submetendo à sua contaminação.

Há estudos de que algumas culturas servem para eliminar o Césio e
acumulá-la nas raízes. As mais conhecidas são o Girassol e o Cânhamo.

Por isso ao redor de Chernobill foram plantados Girassóis. Mas é importante salientar que estes produtos não eliminam o Césio. Eles acumulam nas raízes e estas plantas precisam ser transportadas para outro local onde o césio pode ser acumulado e confinado. E também deve-se saber que a radiação aérea e o Césio fora do local onde atinge a raiz não será recolhido nestas
plantas. De tal modo que a recuperação do solo se dará em um prazo bastante longo.

A presença do Césio no solo indica que deva ter havido um derretimento nuclear (Meltdown) em qualquer um dos reatores, sendo mais provável o de número dois em torno do qual encontram-se as águas radioativas de mais alta contaminação. É também um indicativo de que o acidente nuclear de Fukushima continua e a radioatividade está sendo continuadamente lançada nas águas de resfriamento e no ar.

Mas o maior perigo e suspeita recai sobre o vazamento do Plutônio.

Amostragem de terra coletadas há 500 metros da Usina os dias 21 e 22 de março apresentou, embora em pequena quantidade a presença de Plutônios .
Foram encontrados os Plutônio 239 que tem a meia vida de 24 mil anos, Pu 240 com meia vida de 6600 anos, e Pu238 com meia vida de 88 anos. O
plutônio que vinha sendo importado da frança e depois da Rússia, é o material radioativo considerado “o pior veneno produzido pela humanidade”, e vem
sendo utilizada na Usina 3 de Fukushima. Uma vez absorvido, via aérea ou alimentar, se acumula nos ossos, rins e fígado, e altamente agressivo para provocar câncer nesses órgãos e no pulmão.

A Comissão de Energia Nuclear não deu mais detalhes e até hoje (10 de abril) o assunto da contaminação de plutônio não foi mais divulgado.

Potencial de emissões radioativas de Fukushima

As imagens dessa simulação das potenciais emissões radioativas de Fukushima impressionam. Fonte: http://transport.nilu.no/browser/fpv_fuku?fpp=conccol_I-131_;region=Japan

Japão

Japão

(por Monja Coen)

 

 

 

 

 

 

Quando voltei ao Brasil, depois de residir doze anos no Japão, me incumbi da difícil missão de transmitir o que mais me impressionou do povo Japonês: kokoro. Kokoro  ou Shin significa coração-mente-essência.

Como educar pessoas a ter sensibilidade suficiente para sair de si mesmas, de suas necessidades pessoais e se colocar à serviço e disposição do grupo, das outras pessoas, da natureza ilimitada? Outra palavra é gaman: aguentar, suportar.  Educação para ser capaz  de suportar dificuldades e superá-las.


Assim, os eventos de 11 de março, no nordeste japonês, surpreenderam o mundo de duas maneiras.  A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como dos perigos de radiação das usinas nucleares de Fukushima. A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e respeito de todas as vítimas.


Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para os banheiros. Nos abrigos, a surpresa das repórteres norte americanas: ninguém queria tirar vantagem sobre ninguém.  Compartilhavam cobertas, alimentos, dores, saudades, preocupações, massagens. Cada qual se mantinha em sua área.  As crianças não faziam algazarra, não corriam e gritavam, mas se mantinham no espaço que a família havia reservado. Não furaram as  filas para assistência médica – quantas pessoas necessitando de remédios perdidos – mas esperaram sua vez também para receber água, usar o telefone, receber atenção médica,  alimentos, roupas e escalda pés singelos, com pouquíssima água.  Compartilharam também do resfriado, da falta de água para higiene pessoal e coletiva, da fome, da tristeza, da dor, das perdas de verduras, leite, da morte. Nos supermercados lotados e esvaziados de alimentos, não houve saques. Houve a resignação da tragédia e o agradecimento pelo pouco que recebiam.


Ensinamento de Buda, hoje enraizado na cultura e chamado de kansha no kokoro: coração de gratidão.

Sumimasen é outra palavra chave.  Desculpe, sinto muito, com licença. Por vezes me parecia que as pessoas pediam desculpas por viver.  Desculpe
causar preocupação, desculpe incomodar, desculpe precisar falar com você, ou tocar à sua porta.  Desculpe pela minha dor, pelo minhas lágrimas, pela minha passagem, pela preocupação que estamos causando ao mundo.  Sumimasem.


Quando temos humildade e respeito pensamos nos outros, nos seus sentimentos, necessidades. Quando cuidamos da vida como um todo, somos cuidadas e respeitadas. O inverso não é verdadeiro: se pensar primeiro em mim e só cuidar de mim, perderei.  Cada um de nós, cada uma de nós é o todo manifesto. Acompanhando as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a atenção e cuidado com quem estaria assistindo: mostrar a realidade, sem ofender, sem estarrecer, sem causar pânico.  As vítimas encontradas, vivas ou mortas eram gentilmente cobertas pelos grupos de  resgate e delicadamente transportadas – quer para as tendas do exército, que serviam de hospital, quer para as ambulâncias, helicópteros, barcos, que os levariam a hospitais.


Análise da situação por especialistas, informações incessantes a toda população pelos oficiais do governo e a noção bem estabelecida de que “somos um só povo e um só país”.
Telefonei várias vezes aos templos por onde passei e recebi telefonemas.  Diziam-me do exagero das notícias internacionais, da confiança nas soluções que seriam encontradas e todos me pediram que não cancelasse nossa viagem em Julho próximo.


Aprendemos com essa tragédia  o que Buda ensinou há dois mil e quinhentos anos: a vida é transitória,  nada é seguro neste mundo,  tudo pode ser destruído em um instante e reconstruído novamente.


Reafirmando a Lei da Causalidade podemos perceber como tudo  está interligado e que nós humanos não somos e jamais seremos capazes de salvar a Terra.  O planeta tem seu próprio movimento e vida.  Estamos na superfície, na casquinha mais fina.  Os movimentos das placas tectônicas não tem a ver com sentimentos humanos, com divindades, vinganças ou castigos.  O que podemos fazer é cuidar da pequena camada produtiva, da água, do solo e do ar que respiramos.  E isso já é uma tarefa e tanto.


Aprendemos com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a paciência leva à tranquilidade e que o sofrimento compartilhado leva à reconstrução.
Esse exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de respeito aos vivos e aos mortos ficará impresso em todos que acompanharam os eventos que se seguiram a 11 de março.

Minhas preces, meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza em testemunhar tanto sofrimento e tanta dor de um povo que aprendi a amar e respeitar.

Havia pessoas suas conhecidas na tragédia?, me perguntaram. E só posso dizer: todas.  Todas eram e são pessoas de meu conhecimento.  Com elas aprendi a orar, a ter fé, paciência, persistência.

Aprendi a respeitar meus ancestrais e a linhagem de Budas.

Mãos em prece (gassho)

Monja Coen*

Gaman + kansha no kimoti

Chama a atenção a Carta de Chieko Aoki, presidente da rede Blue Tree Hotels.

anúncio criado pela Signal Noise - http://blog.signalnoise.com/

A todos da Blue Tree,
Sobre a situação no Japão, a mídia está exagerando para vender bem a notícia. A usina nuclear está sendo trabalhada e o povo é informado o dia todo, por todos os canais de TV e, pelo visto, por enquanto nada preocupante. É fato que o governo está fazendo de tudo para evitar aquecimento da usina. Existem sim riscos, mas por enquanto está bem. A cidade está menos cheia porque reduziu-se a frequência de transportes públicos para economia de energia. Estamos sob apagão programado, com revezamento diário de racionamento de 3 horas. Onde moro não tem este problema porque é região onde o governo tem grandes equipamentos que não podem ser desligados. Hoje, por exemplo, fez muito frio e o povo ligando aquecedores, sobe o consumo. Em casa, estamos gastando o mínimo de energia, assim como todos japoneses.
No mais, é realmente dramática a situação no local do tsunami e, em menor extensão mas também difícil, quem morava perto das usinas e que tiveram que evacuar. Imagine mais de 1,5 milhões de pessoas desabrigadas nesta situação em cerca de 3,500 abrigos. Com falta de gasolina e diesel que dificulta ajuda a locais atingidos, porém hoje conseguiu cobrir entrega de produtos de necessidade a quase todos os abrigos. As doações vem de praticamente todas as empresas do Japão, entregando seus produtos. Solidariedade é um capitulo à parte que vale a pena compartilhar.
O exagero da mídia é prejudicial, assim peço que compartilhe com o nosso pessoal e para quem perguntar, porque Tóquio não é cidade fantasma por conta de usina. Tudo é planejado para racionamento de energia, com empresas dispensando funcionários mais cedo para não congestionar somente determinados horários; com tragédia assim as pessoas não ficam por aí fazendo compras e comendo à vontade nos restaurantes. O Japão é país solidário e grupal, assim se uma parte está sofrendo, todos sofrem juntos e, nesse momento, o espírito é de “gaman”, que todo japonês está falando, ou seja, saber suportar, ter paciência, ser tolerante com as dificuldades. Outro termo que está sendo bastante usado é “kansha no kimoti”: espírito de gratidão. As pessoas estão valorizando a vida, a energia, ajuda, etc.
Agradeço a preocupação e continuem orando pelo povo japonês.
Abraços
Chieko Aoki
Presidente
Blue Tree Hotels

Compreender Fukushima

As ultimas noticias de Fukushima, mostram que a Tokyo Electrics não está conseguindo evitar o vazamento de água contaminada às águas do pacífico.

Mainishi Daily News

É o seguinte o  mecanismo do vazamento e contaminação atual:

Para se impedir o vazamento da radiação via aérea:

Vem se utilizando água para resfriar as Varetas de combustível e para isolar a radiação de Iodo, césio radiativos e outros componentes radioativos dentro da água.

As varetas estão imersas num tanque de resfriamento ou dentro do próprio reator.

Esses tanques de resfriamento nos reatores 1 a 3 estão com vazamento e precisam de receber reposição contínua de água (6, 8 e 7 toneladas/hora respectivamente nos reatores Numero um, dois e três) visando manter o nível da água e a temperatura destas varetas de combustível, num limite do menor uso possível das águas. Mesmo assim os reatores um, dois e três somados necessitam de 21 toneladas de água por hora.

Estas águas vazam por rachaduras anda não identificadas e estão se acumulando dentro dos diversos compartimentos e túneis subterrâneos das usinas.
De alguma rachadura estas águas contaminadas passaram para compartimentos exteriores à usina e  por meio de túneis subterrâneos vazaram para o mar.

Numa das rachaduras à beiramar,  e próxima  à Usina 2, foi identificado um vazamento  que chega a 2 litros por segundos, o que equivale a 8,6 toneladas de água contaminada  por dia.

Nestes últimos dias foram tentadas utilização de concreto e depois polímeros solúveis para solidificar a água e tampar as rachaduras de vazamento para o mar. A tentativa foi um fracasso. Tentaram neste ultimo dia (04 de abril) colorir a água de um dos tanques para verificar a rota de vazamento. Não encontraram nada, isto é, o vazamento deve estar vindo de trajetos ainda não identificados.

Por outro lado tentam os técnicos da Tokyo Electrics isolar  a água radioativa vazada em tanques locais por meio de bombas hidráulicas. Repassam de um tanque para outro, até, quem sabe, conseguirem encontrar  e controlar as rachaduras de vazamento dentro das usinas.

É preciso entender: São 21 toneladas de água por hora utilizadas para o resfriamento (21 x 24 = 504toneladas/dia) . E destas foram encontradas vazamento de 8 toneladas/dia. O restante das águas, boa parte vem se acumulando em túneis e compartimentos subterrâneos. Que tentam bombear em tanques exteriores… Para depois lhes dar rumos ainda indefinidos.

Técnicos da Tokyo Eletrics anunciaram em lágrimas que as águas acumuladas em piscina exterior de cerca de 11 mi toneladas, águas estas consideradas de baixa contaminação radiológica ( terão que ser jogada no mar para abrirem espaço para águas altamente contaminadas) serão lançadas ao mar.

Farão o mesmo com as águas de menor contaminação contidas nos tanques das usinas 5 e 6 (total de 1500 toneladas)  com radiação de cerca de 6 a 20 Becquerell, cerca de 100 vezes acima do padrão de segurança admitido pela Comissão de Energia Nuclear.
As águas contaminadas vazadas ao mar oriundo da Usina 2 tem a radiação de alguns milhões de Becquerrell.

A cada jorrada nova de água para resfriamento estão sendo produzidas a mesma quantidade de água radioativa de alta periculosidade.

Por isso é preciso compreender.

A GRANDE CATÁSTROFE NUCLEAR DE FUKUSHIMA ESTÁ EM ANDAMENTO.
E NÃO TEM PRAZO PARA TERMINAR.

O VAZAMENTO RADIOATIVO CONTINUA. NUMA QUANTIDADE QUE NÃO SE SABE AINDA O SEU FIM.

ESTA É A CATÁSTROFE PRODUZIDA PELOS HUMANOS.

E TEM GOVERNANTES DO MUNDO COM CARA DE PAU DE DIZER QUE É “CLEAN ENERGY”.

E TEM TÉCNICOS DIZENDO SER ESTA A ENERGIA NUCLEAR MAIS BARATA.

Lembramos que os gastos com acidente em Chernovill já atingiram 23.500.000.000 dólares. (23,5 bilhões de dólares).
23,5% das terras de Bielorussia estão contaminadas para agricultura.

Quem paga por esses prejuízos ?
Por enquanto a GE, a AREVA S/A (fabricantes de usinas nucleares), o governo russo e francês (fornecedores de plutônio) apenas manifestaram solidariedade, sem se arcarem com os danos e prejuízos causados.
E pior, manifestam  a vontade de vender novos equipamentos de controle e resfriamento para controlar a temperatura por mais de 30 anos – num raro gesto de sarcasmo e oportunismo.

Por tudo isso.

CHEGA DE ACIDENTES DO TIPO FUKUSHIMA
NÃO À ENERGIA NUCLEAR.

E MEUS PROTESTOS CONCRETIZO NUM SINGELO GESTO DE PRODUZIR ORIGAMI DE TSURU.

 

 

 

 

 

 

 

 

Odo/04/04/2011.

Um Protesto Silencioso

Como filho e neto de japoneses, venho sentindo o infortúnio que o povo dos meus ancestrais vem sofrendo.

Antes, o das catástrofes naturais.

Erupções vulcânicas, terremotos e Tsunamis, fazem parte da Comunicação do Planeta.

Mas o que dizer das desgraças produzidas pelos humanos.

Quando a memória das bombas de Hiroshima e Nagasaki estavam sendo esquecidas na história, veio a destruição das Usinas Nucleares de Fukushima.

Quantos sábios desacreditados não advertiram que se tratava de uma bomba relógio para gerações futuras ??

E este futuro já se apresentou.

Somos as gerações condicionados a nos conformar. E olhar apenas as alternativas oferecidas.

Os formadores de opinião nos fazem opor a energia nuclear a combustíveis dos fósseis.

Os Chefes do Primeiro Mundo discursam hipocritamente:

“Queremos ajudar a resfriar as barras de plutônios”

“Oferecemos o nosso know how”

Adquiridos no Three Miles e Chernobil.

A indústria nuclear querendo faturar sobre a desgraça.

Poucos se lembram que ela é a filha da indústria bélica.

E agora se aproximam dos cadáveres para se deleitarem.

Na esperança da verdadeira inteligência.

Criar alternativas sustentáveis, felizes, Criar novos padrões…

Sem produzir ou depender das indústrias de destruição.

Por hora um protesto silencioso.

Tsuru, Origami, desejo de paz e fim das energias nucleares.

Yoshihiro Odo

Março/2011